
Quando
se olha para o Sol, o que se vê em primeiro lugar é aquele disco
luminoso que tem sempre a mesma forma, a mesma dimensão, e que pode ser
observado, medido, filmado. É o seu corpo. Mas se se quiser estudar o
que sai dele, a luz que corre, que jorra do centro para a periferia, se
se quiser saber o que ela é e até onde se expande no espaço, é
impossível, isso ultrapassa a imaginação.
O
ser humano é construído como o Sol: tem um corpo físico, determinado,
imutável; mas acerca daquilo que sai dele – os seus pensamentos, os seus
sentimentos, as suas radiações, as suas emanações –, o que é que se
conhece? Pouca coisa... As pessoas têm tendência a confundir -se com o
seu corpo físico, mas daqui a não muito tempo serão obrigadas a rever
todas as suas concepções e a reconhecer que só a Ciência esotérica é
verídica, porque tem tido em conta, ao mesmo tempo, os dois aspectos da
realidade: o aspecto objectivo, mensurável, material, dos fenómenos, que
não deve ser descurado, mas também, e sobretudo, o aspecto espiritual,
vivo, as emanações e as radiações, cuja natureza e cujo poder ainda não
são conhecidos.
Um dia,
eu disse -vos: «Os planetas tocam -nos, o Sol toca -nos...» e vós
ficastes espantados. Contudo, é verdade, o Sol toca-nos de longe através
dos seus raios. E nós, que somos construídos pelo mesmo modelo que o
Sol, por intermédio do nosso pensamento, da nossa alma e do nosso
espírito, temos poderes que se estendem até muito longe, para além dos
limites do corpo físico. Do mesmo modo que o Sol age sobre os metais, as
plantas, os animais e os humanos, que penetra, aquece e alimenta, assim
também nós podemos, pelas nossas emanações, à distância, transformar,
melhorar, iluminar e vivificar as criaturas.
Mas
vamos mais longe: aquele disco luminoso que vemos no céu, perfeitamente
limitado, é o corpo do Sol. O que sai dele, os seus raios, são os seus
pensamentos, a sua alma, o seu espírito, que vão visitar a periferia
para distribuir por toda a parte a riqueza e a abundância. Quando eles
estão descarregados, regressam ao Sol para se recarregar, e depois
partem de novo para visitar outras criaturas através do espaço.
No nosso
corpo físico, o representante do Sol é o coração; ele tem as mesmas
funções, a mesma actividade infatigável, e, incessantemente, mesmo
quando todos os outros órgãos abrandam a sua actividade, ele continua o
seu trabalho, pois o seu objectivo é um só: ajudar, sustentar,
alimentar, edificar, reparar. Ele só pensa em dar, em ser impessoal,
generoso e cheio de amor. Mas será que os humanos se aperceberam de que
possuem um órgão, o coração, que é o representante do Sol no seu corpo
físico?
Estes
raios, esta luz que o Sol envia, correspondem, portanto, ao sangue: como
ele, estão cheios de tudo o que é útil, proveitoso, benéfico e salutar
para todas as criaturas do Universo. Este sangue, depois de ter
depositado a sua carga de materiais nutritivos, reparadores, portadores
de cura, e de ter captado, em troca, todas as impurezas, regressa. Mas
não regressa directamente ao Sol, ao coração, passa primeiro pelos
pulmões do Universo para aí ser liberto dessas impurezas.
O
planeta que desempenha o papel dos pulmões é Júpiter. A astrologia
atribui-lhe mais o fígado, mas o fígado executa as mesmas funções noutro
domínio: limpa e purifica igualmente o organismo dos seus venenos. Em
búlgaro, fígado diz -se tcheren drob, que se pode traduzir por pulmão
negro, e pulmões diz-se bel drob, pulmão branco.
Reparai que há uma proximidade extraordinária. Ambos estão encarregues da purificação, em dois domínios diferentes.
Se bem
que a astrologia atribua vulgarmente o fígado a Júpiter, eu atribuo-o
antes a Saturno. Aqui é a mitologia que pode ajudar-nos a compreender as
suas relações. Na origem, Júpiter encontrava-se no fígado e Saturno nos
pulmões, mas quando Júpiter destronou o seu pai, apoderou-se do governo
dos pulmões e precipitou Saturno para o fígado.
Desde
então, Saturno leva uma vida subterrânea, nas minas, tal como o fígado,
que trabalha abaixo do diafragma, na escuridão e nos venenos.
Mas deixemos tudo isso e voltemos ao Sol.
A
luz que sai do Sol é, pois, o seu sangue. Estes raios, depois de terem
sido utilizados pelos planetas, pelos inúmeros seres do Universo – visto
que o espaço é habitado por biliões de criaturas que recebem estes
raios e deles se alimentam –, escurecem, perdem a sua luz, o seu calor;
dirigem -se então para Júpiter, que os purifica – a Lua e Saturno
participam também nesta purifi cação –, e, fi nalmente, voltam ao Sol.
Em seguida, o Sol envia de novo esta força para o espaço, depois de a
ter recarregado de amor, de sabedoria e de verdade.
No sistema solar há, pois, toda uma circulação.
Ele é um organismo vivo que funciona graças ao Sol, esse coração que bate e o alimenta incessantemente.
Por isso
o coração foi tomado como símbolo da impessoalidade, do desapego de
interesses, do amor: ele ocupa no homem o lugar do Sol. É o seu desejo
de dar que torna o Sol tão luminoso e ardente. Tirai a alguém o amor, a
bondade, o desejo de ajudar os humanos, e o seu rosto tornar-se-á
mortiço, tenebroso. Reparai num homem que se prepara para ir ver um
amigo que está doente ou infeliz e levar-lhe presentes, dizer -lhe
palavras de consolação: o seu rosto é belo, radioso. E reparai, pelo
contrário, no aspecto de um criminoso que prepara um golpe: ele tem um
ar tenebroso, crispado, inquieto, nele já não há luz. É preciso que
compreendais esta linguagem. Quanto mais tiverdes o desejo de
esclarecer, de instruir os seres e de os ajudar, mais a luz aumentará em
vós e se alargará até formar à vossa volta uma aura extraordinária,
radiosa, luminosa. É o Sol que possui os verdadeiros critérios, as
medidas, as leis absolutas.
Por isso, eu não procuro instruir-me noutros livros, para mim o Sol é o verdadeiro livro.
E
agora, não achais espantoso que o Sol, que dá, dá e irradia há milhões e
milhões de anos, não se tenha esgotado?... O que vós não sabeis é que
no amor divino existe uma lei segundo a qual quanto mais dais, mais vos
encheis. No Universo, não há vazio. Logo que se produz um vazio, algo
vem imediatamente preenchê -lo. Esta lei age em todos os planos. Se
aquilo que dais é luminoso, resplandecente, benéfico, recebeis, do outro
lado, elementos da mesma qualidade, da mesma quinta-essência luminosa e
irradiante. Mas, se emanardes sujidades, imediatamente o vosso
reservatório se encherá de sujidades.
O Sol é
inesgotável porque, no seu desejo de dar, enche-se. Ele envia-nos os
seus raios, mas, ao mesmo tempo, recebe incessantemente novas energias
do infi nito, da imensidão, do Absoluto. Ele dá, projecta raios para a
periferia, mas absorve as energias do Absoluto no seu próprio centro.
Foi o que ele me explicou um dia: «Eu estou continuamente ligado ao
infinito, à Divindade, e, como tenho os desejos e pensamentos mais
puros, atraio também as energias mais puras e luminosas. Aprendei comigo
a tornar-vos perfeitos, inesgotáveis, infatigáveis. Tende o mesmo
objectivo que eu, tende por ideal ser semelhantes a mim, trabalhar como
eu, e constatareis que, quando despendeis algumas energias para o bem
dos outros, muito pouco tempo depois, de súbito, sentis -vos
recarregados com novas energias.»
Como
acontece isso? É misterioso, mas é tão verdadeiro! Ao passo que, se
despenderdes energias num propósito demasiado pessoal, levareis muito
tempo a recuperar, a descansar, a restabelecer -vos, e se, por
infelicidade, fi cardes doentes, talvez sejam necessários meses e anos
para vos curardes. As criaturas inspiradas pelos melhores pensamentos e
pelo melhor ideal restabelecem -se sempre mais rapidamente. Dir-me-eis, é
claro, que é difícil realizar esta grandeza, esta superioridade do
Sol... Eu sei isso muito bem; mas se, de geração em geração, os humanos
se aperfeiçoarem, se purifi carem, se espiritualizarem, obterão pouco a
pouco as mesmas qualidades que o Sol: serão infatigáveis, invulneráveis,
inesgotáveis e sempre radiosos.
II
Diz -se na Ciência esotérica que
onde habita um Iniciado nenhum espírito mau tem o direito de penetrar. O
Iniciado pode mesmo proibir-lhes a entrada no seu domicílio servindo-se
de escritos em que os ameaça deste ou daquele castigo se eles não
respeitarem a proibição. E quando ele quer fazer uma cerimónia mágica,
um grande trabalho espiritual, reserva um lugar e consagra-o para
impedir a entrada dos maus espíritos: envolve-o num círculo e inscreve
lá nomes sagrados; assim, fica tranquilo e pode trabalhar. Só têm o
direito de entrar as criaturas superiores, ao passo que as entidades
inferiores ficam de fora a gritar, a ameaçar, e, se tentam entrar, são
fulminadas.
Quando um ser quer criar, é como
uma mulher grávida ou como uma ave fêmea que quer pôr os seus ovos:
necessita de um ninho, de um lugar calmo e retirado. No mundo invisível
passa-se exactamente o mesmo: cada espírito tem o seu lugar, que lhe é
reservado no espaço infinito, cada criatura espiritual ocupa um lugar
delimitado e protegido por certas vibrações, certas cores, ou por uma
quinta-essência particular; é um domínio onde aquele que possui
vibrações contrárias não tem o direito de vir causar perturbações. Só os
espíritos superiores têm o direito de passar por toda a parte, porque
nunca perturbam nada.
Nos locais onde os humanos vivem e
habitam, há milhões, biliões de entidades que vão e vêm, que circulam,
sem eles se aperceberem disso. Portanto, se não colocardes o letreiro:
«É proibida a entrada», isto é, se não consagrardes a vossa casa, as
criaturas inferiores, encontrando a porta aberta, virão roubar-vos; e
nessa altura não podereis queixar-vos à justiça divina, pois ela
responder-vos-á: «A culpa é vossa! Deveríeis ter colocado uma cerca ou,
pelo menos, um cartaz.»
Enquanto
o vosso coração, a vossa alma, o vosso espírito, estiverem abertos aos
quatro ventos sem serem consagrados, protegidos, sem estarem cercados
por uma barreira de luz, os espíritos têm o direito de entrar para
sujar, devastar ou até levar todos os vossos tesouros. Não se pode
puni-los, competia ao proprietário tomar precauções. Do mesmo modo que,
no passado, se protegiam as cidades e os castelos com a ajuda de fossos
cheios de água, de muralhas e de pontes levadiças, assim também o
discípulo deve erguer à sua volta paredes, muralhas e fortificações.
Para um discípulo ou um Iniciado, a melhor protecção contra todas as más
correntes e todos os espíritos tenebrosos é a aura.
Quanto mais luminosa e vasta ela
é, mais puras são as suas cores e mais o discípulo está em segurança,
visto que a aura funciona como uma carapaça, como uma couraça que o
protege de todas as más correntes. Mas será que vós pensais em trabalhar
sobre a vossa aura? Não, ficais expostos às idas e vindas dessas
entidades malfazejas e depois lastimais-vos por terdes sido despojados
ou por vos sentirdes fatigados, tristes e infelizes.
Reparai que na Natureza todos têm
as suas desconfianças: os pássaros, as feras, os insectos, constroem à
sua volta protecções para impedir que os encontrem ou os capturem.
Então, por que haveria o homem de ser tão ingénuo e confiante a ponto de
acreditar que nenhum inimigo o ameaça e que será poupado? Milhões de
entidades se esforçam encarniçadamente, dia e noite, por extraviar o
género humano e juraram aniquilá-lo por completo.
Felizmente, a humanidade tem
protectores! É graças a esses protectores que ela ainda não foi
aniquilada, mas à custa de quantos sofrimentos e tormentos!
A conclusão a tirar é que deveis
trabalhar sobre a vossa aura. Como? Quando assistis ao nascer do Sol,
reparai como ele se rodeia de uma aura formidável, cheia de cores
maravilhosas, e dizei para convosco: «Também eu quero rodear-me das mais
belas cores». Fechai os olhos e imaginai que estais envolvidos em
violeta, depois em azul, verde, amarelo, laranja, vermelho... Ou então
começai pelo vermelho para ir até ao violeta, ficando envolvidos por
cada cor durante alguns minutos. Banhai-vos nessa luz, imaginai que ela
brilha e se espalha até muito longe, e que todas as criaturas que se
encontram nesta atmosfera beneficiam dela, que todos os que se dão
convosco poderão, de uma maneira ou de outra, receber os seus
benefícios.
É desta forma que a vossa aura vos
serve de protecção, sendo ao mesmo tempo uma bênção para os outros,
pois graças a ela podeis ajudá -los. Dir-vos-ei até que, quando alguém
que amais está doente, infeliz, desanimado, se quiserdes realmente
ajudá-lo, enviai-lhe cores. Sim, quantos exercícios se podem fazer com a
aura e as cores!
«RUMO A UMA CIVILIZAÇÃO SOLAR», de Omraam Mikhaël Aïvanhov, inserido na Colecção "Prosveta".